"Quem faz o Carnaval de uma cidade não é a Prefeitura, são os artistas" (2023)

"Quem faz o Carnaval de uma cidade não é a Prefeitura, são os artistas" (1)

Importante artista do cenário cultural cearense, a Drag Queen, cantora e atriz, Mulher Barbada avalia cenário de retorno das programações de Carnaval na cidade de Fortaleza. Sua carreira atravessa mais de seis anos de shows nessa festa e a atuação no Coletivo As Travestidas, que chegou oficialmente ao fim das atividades em janeiro de 2023.

Rodrigo Ferrera, que dá vida à Queen Mulher Barbada, foi a protagonista de uma discussão marcante nas redes sociais sobre a discrepância de espaço dado em festivais cearenses aos artistas da região. O fato que desencadeou o tema foi um mal tratamento no show em que a artista dividiu palco com Pabllo Vittar, em outubro de 2022.

Em entrevista ao O POVO, Rodrigo deu sua opinião sobre a oportunidade dada aos “artistas locais” e os problemas enfrentados por eles para apresentações no Carnaval de Fortaleza em 2023.

O POVO - O ano de 2023 está sendo marcado como o primeiro com programação de Carnaval desde o início da pandemia de covid-19. Para você, qual tem sido a marca deste momento de retomada?

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Mulher Barbada - Eu acho que a grande realização é essa compreensão na prática da importância do carnaval, do nosso sentimento assim de comunidade, de comunhão mesmo, sabe? Depois de dois anos, ver o Carnaval de volta, essa expressão que faz pouco sentido, praticamente falando... Não tem um motivo real para a gente se reunir na rua, não tem uma questão prática. É justamente porque a gente quer, porque a gente deseja o encontro que vamos para rua pra fazer Carnaval. E aí, depois de dois anos sem ter essa festa, perceber a nossa vontade de voltar para a rua, nossa vontade de estar junto, de encontrar os amigos, de encontrar as suas tribos no meio do carnaval deixou bem claro para mim a importância desse movimento. Acho que é inexplicável, mas, ao mesmo tempo, eu compreendo agora que emoção faz com que a gente se reúna e durante um mês a cada ano para celebrar a vida mesmo na rua e para mim isso tem que ser a coisa mais marcante.

OP - Do Bloco das Travestidas ao Bloco Mambembe, o repertório apresentado é sempre muito diverso. O que vocês têm priorizado na hora de pensar o que deve ou não estar presente no Carnaval?

Barbada - O primeiro bloco das Travestidas, em 2017, não foi muito planejado, a gente só queria fazer essa festa acontecer. Com o tempo a gente foi aprendendo que o Carnaval de fato era importante pra gente aquele movimento. Eu tinha o desejo de ter uma banda de mulheres, de pessoas LGBTs e agora está bem concretizado. A nossa busca de repertório também é pela diversidade, a gente não se prende a um estilo ou a uma época, a gente tenta misturar de uma forma a democratizar. Tem letras de Carnaval que a gente se recusa a cantar por serem problemáticas. A gente tenta também escolher um repertório que seja respeitoso e que seja também parte da nossa identidade, diversa.

OP - O Bloco Mambembe se posicionou diante dos problemas enfrentados durante o Ciclo Carnavalesco com a Prefeitura de Fortaleza. Qual avaliação você faz desse processo desde a inscrição no edital até efetivamente subir ao palco?

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Barbada - A grande questão mesmo foi a transparência. Temos que levar em consideração que a gente já vinha há alguns anos participando de um processo que eu julgava bem organizado e bem compreendido pela cidade. A gente tinha não só um processo de inscrição dos blocos, dos que vendem Carnaval, mas a gente tinha também uma coletiva de imprensa para entender o mecanismo do Carnaval na cidade. É uma festa que muda o fluxo da cidade como um todo, não só nos polos, mas também onde não acontece. Antes havia uma programação que a gente compreendia o fluxo. Para mim, a atual gestão ignorou a forma como se fazia e fez, na minha compreensão, de forma menos transparente e menos organizada. É importante entender que quem faz o Carnaval de uma cidade não é a Prefeitura, são os artistas. O papel dela é colocar um suporte, o que é uma obrigação do Poder Público. A gente que faz o Carnaval ficou completamente perdido, enquanto deveríamos ser o ponto central dos esforços, ficamos um como um pensamento posterior. Para mim, isso foi o pior de tudo.

OP - Carnaval também é tempo de reflexão sobre o que é considerado fantasia ou não. Inclusive com recorrência de certa folclorização de minorias, como indígenas e pessoas trans. Como você avalia a importância de buscar uma conscientização sobre possíveis opressões em meio à folia?

Barbada - Eu acho que é uma situação bem delicada porque, no Carnaval, a gente está na rua com aquela movimentação caótica, que faz parte do Carnaval. E, para entender essas nuances, precisaria saber quem são essas pessoas que estão ali, mas a gente não conhece todo mundo que está na rua. É uma questão superdelicada de ser abordada. No Bloco das Travestidas, no Mambembe, a gente procura temas que sejam mais abrangentes, como o Carnaval Primavera, que a gente pensa não ser ofensivo de nenhuma maneira. A melhor coisa que podemos fazer é pensar em maneiras de não cair nos mesmos erros, para a gente não continuar tendo homens vestidos de mulher e pessoas não-indígenas caracterizados assim. Em cima do Uma coisa que eu tenho achado interessante é a mudança no próprio mercado de fantasias de Fortaleza é que eu vejo cada vez mais as pessoas se distanciando de fantasias mais personificadas e colocando em um outro lugar, com mais cores, brilhos e texturas. É um movimento de criar um carnaval colorido e diverso sem necessariamente estar fantasiado. Eu acho que a gente só tem a ganhar quando a gente faz assim.

OP - O status de “artista local” carrega muitos desafios, a exemplo do enfrentado por você na Fica Vai ter Pop, quando acabou ficando sem camarim pós-show. Seja no Carnaval ou em outros eventos, por que é difícil ser “artista local”?

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Barbada - Eu acho que não é uma questão de uma produtora, é uma questão cultural da nossa cidade. A gente vê isso não só no mercado de eventos e em festas, mas também no teatro e na dança. Quantas vezes os grandes eventos de arte como o Palco Giratório não colocaram as amostras nacionais e as amostras estaduais? Estão sempre pondo o artista do estado nesse lugar de ser “local”. Eu acho que isso é uma questão cultural muito forte, de dividir essas duas classes de artistas. A grande questão não é a nomenclatura. O Mateus Fazeno Rock comentou isso em um podcast. Ele falou que a grande questão não é ser colocado no status de “local” ou de “nacional”, o problema é a disparidade entre os tratamentos, cachês, estrutura e entre o que é oferecido para nós enquanto artistas. Por mais que um “artista nacional” concentre público e venda mil e tantos ingressos, quem está toda semana fazendo os eventos acontecerem sem parar são os intitulados “artistas locais”. Falta também compreender como é que a gente pode deixar essa disparidade menor porque, se a gente não evolui nisso, como é que os nossos artistas locais viram nacionais?

OP - O coletivo As Travestidas chegou ao fim. A partir de agora, quais os planos para a carreira e, principalmente, para os shows no carnaval de 2023?

Barbada - As Travestidas já não se apresentavam juntas há mais de um ano, a gente estava seguindo caminhos muito diversos e diferentes e percebemos que não íamos conseguir estar juntas. Então veio a decisão de sinalizar esse fim com um espetáculo e com festa para não deixar nossa história só morrer. Fizemos esse último esforço de reunir agendas e conciliar. Nós estamos seguindo de forma solo, todas muito bem com a carreira em lugares diferentes. Eu estou indo para a música com toda minha energia e força, não só no Carnaval, mas também no lançamento do meu trabalho autoral “Bárbara” deste ano. Eu tenho trabalhado muito na música esse ano, tentado também colocar o meu nome mais em evidência, me sustentar como artista além do coletivo. Eu acho que eu tenho feito isso já há bastante tempo.

Onde encontrar

(Video) Tiee - Quem (Clipe Oficial)

A Mulher Barbada pode ser encontrada no Instagram (@mulherbarbadaoficial), Youtube (youtube.com/@MulherBarbadaOficial). No Spotify, estão suas músicas autorais.

BlocoMambembe

O Bloco Mambembe, comandado por Mulher Barbada e Deydianne Piaf, acontece em 19 e 21 de fevereiro. No domingo, estará às 12 horas na Praça da Gentilândia e, às 16 horas, no Arena Iracema. Na segunda, às 19h20min, o Bloco terá apresentação no Aterrinho da Praia de Iracema.

As Travestidas

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Mulher Barbada, Silvero Pereira (Gisele Almodóvar), Denis Lacerda (Deydianne Piaf), Patricia Dawson, Yasmin Shirran, Verónica Valenttino, George Santiago (Betha Houston) e Italo Lopes (Karolaynne) compõem o Coletivo Artístico As Travestidas. O grupo, que se juntou - com essa nomenclatura - em 2011 e encerrou suas atividades em janeiro deste ano.

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Author: Rev. Leonie Wyman

Last Updated: 04/04/2023

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